O Começo Conturbado

Pra quem não sabe, esse ano eu entrei na Universidade Estadual do Rio de Janeiro pra uma segunda graduação em tecnologia. E vou te contar uma parada: meu ensino médio foi uma bagunça, ainda mais com a pandemia. Lembra quando ficamos meses sem saber se ia ter aula? O resultado foi que ficamos meses sem aulas até que o modelo EAD fosse finalmente implementado. A verdade é que o ensino a distância para um aluno de escola pública raramente é vantajoso. Não nos sentimos cobrados ou sequer motivados, pois sabíamos que, no fim das contas, a aprovação era quase garantida.

O aluno “inteligente” que não estudava

Toda a minha trajetória escolar foi em colégios públicos. Eu era um bom aluno, mas no sentido de que sempre tirava notas na média sem precisar me esforçar de verdade. Eu nem imaginava o que era “estudar direito”. O conhecimento vinha das aulas e de um ou outro dever de casa que fazia. Minha família nunca se deu ao trabalho de conferir se eu estava realmente estudando, justamente porque minhas notas eram suficientes. As pessoas diziam que eu era inteligente, e eu acabei acreditando cegamente nesse comentário.

Gato preto sentado em frente a uma parede coberta de equações matemáticas.

A rivalidade que me fez estudar (ou quase isso)

Ao longo da vida escolar, sempre me dediquei muito menos às áreas acadêmicas tradicionais. Em vez disso, eu “estudava” tecnologia por conta própria. Graças ao projeto Casa Arte Vida, que me deu a oportunidade de aprender robótica e programação desde cedo, acabei absorvendo conceitos de física e lógica matemática de forma quase intuitiva. O mais engraçado é que, na minha turma “maker”, criei uma rivalidade saudável com alguns amigos que eu também considerava muito inteligentes. Eu não queria ficar para trás. Em sala de aula, eu sentia dificuldade com os assuntos, via os professores fazendo perguntas e todo mundo respondendo como se fosse óbvio, enquanto eu ficava perdido.

Essa sensação de estar para trás me motivou. Comecei a usar minha internet de 2MB para pesquisar os temas em casa. Foi assim que comecei a estudar, ainda que de forma passiva. Eu absorvia os conceitos, mas não praticava muito. Ainda assim, foi o suficiente para alimentar minha rivalidade, entender melhor as aulas e até desenvolver um pensamento mais crítico sobre o que os professores diziam. Com isso, aquela sensação de ser “inteligente” voltou com tudo.

A primeira faculdade e os gurus da internet

Por que estou contando tudo isso? Para explicar a situação em que me encontro hoje na faculdade.

Minha primeira graduação foi a distância, em uma faculdade privada que consegui com bolsa pelo Enem. Eu não dava a menor importância para aquilo. Na época, eu ouvia dos “gurus da internet” que, para a área de tecnologia, o diploma não era necessário. Então, meu plano era simples: pegar o diploma apenas para dizer que fui o primeiro da minha família a ter um curso superior (a falta de incentivo para a vida universitária em casa vinha da pouca familiaridade da minha família com esse universo). Sendo online, tudo era mais fácil. As provas presenciais eram simples, e as que eram a distância permitiam consulta fácil na internet.

O tempo passou e, mesmo com o ensino médio e uma graduação no currículo, eu me sentia muito cru em relação a tudo na área acadêmica. Comecei a conhecer pessoas novas, amadurecer, ler mais, e isso me abriu novas perspectivas.

gato rindo e debochando meme

O despertar e o vestibular

Foi aí que decidi: vou estudar para o vestibular, ter uma nova experiência acadêmica e preencher as lacunas que eu mesmo criei. Foi nesse momento que o quanto eu era cru em relação aos tópicos do ensino médio ficou ainda mais evidente (e esse déficit não foi embora completamente). Percebi como fui negligente e como caí no conto da minha própria suposta inteligência. A verdade é que eu nunca tinha tido contato com assuntos realmente difíceis; tudo o que eu estudava era superficial, sem a necessidade de sentar a bunda na cadeira e pensar por horas sobre algo.

Lembro de passar duas horas tentando resolver um problema de matemática básica, que exigia mais lógica do que qualquer outra coisa — algo que eu pensava ser bom —, e não conseguir. Foi frustrante.

Gato chorando com uma calculadora e um livro de matemática em mãos.

Com essa nova mentalidade, comecei a estudar de verdade, mirando uma universidade pública. Fui muito influenciado pela minha colega e amiga de trabalho, Gabi, e pela minha namorada, Laura, que me incentivaram a buscar essa experiência. Mesmo sem um resultado tão bom quanto eu gostaria no vestibular, foi o suficiente. Ufa, passei. Pensei: “Agora sim, estou preparado. Aprendi a lição”.

O tapa de realidade da UERJ

Pois é. Na verdade, não.

Comecei o primeiro período pensando: “Nossa, essas disciplinas são tranquilas… Construção de Algoritmos? Organização de Computadores? Matemática Básica? Isso é moleza, nem vou precisar me esforçar tanto”.

Dito e feito. Caí na mesmíssima armadilha de sempre: não me esforçar, não dar o meu máximo e estudar de forma passiva.

Personagem de anime dormindo sobre uma mesa, com livros e canetas ao redor

Então, as primeiras avaliações chegaram. Em uma única disciplina, tirei uma nota alta e fiquei na média. Nas outras? Foi um tapa na cara. Um, não. Vários.

Só sei que nada sei.

Essa experiência me ensinou que você precisa dar o seu máximo desde o início, porque a falta de empenho no começo pode te prejudicar por todo o caminho. Mas, ainda assim, estamos na luta. Em breve saberemos se eu realmente aprendi com todas essas lições.

Este post foi mais um desabafo e uma conversa comigo mesmo, mas espero que possa inspirar alguém a fazer diferente. Muitas vezes, acreditamos que já estamos fazendo o nosso melhor ou que já dominamos certos assuntos. Meu conselho é: dê um passo para trás, observe com atenção e veja se o seu ego ou orgulho não estão ofuscando suas lentes.

Já dizia o BK’: “Não dar meu máximo é jogar meu dom no lixo.”

Rapper BK e sua frase - Não dar meu máximo é jogar meu dom no lixo.

Créditos: @letrasboa

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